paulostress

Olá!


sábado, 12 de março de 2022

Volver

 Aqui regresso

desprovido de palavras

quando tanto há a dizer

de nada me podem valer.

O poeta vive da memória

do inatingível e intangível

por isso tanto se esforça

para fazer acontecer.

Aqui volvido

não sou o mesmo

o idealizado tornou-se um lugar

onde somente cabe a contemplação.

Neste ponto, perde-se o poema

fica a fruição.

A benção do silêncio

a serenidade

do nirvana:

a simplicidade.

Apenas me ocorre um

obrigado.

Prometo aqui voltar

no estar da memória

por enquanto, 

que me desculpe o outro

mas apenas há presente

.




quinta-feira, 14 de novembro de 2019

Novembro

Pensava eu ser um sofredor
um cavaleiro das trevas mundanas
até que vivi, sim, vivi,
o verdadeiro terror...

Essa imagem, lembra-te para sempre,
porque não podemos apenas recordar os momentos felizes
o mar revolto, o tempo chuvoso, o Ladrão, o Ladrão,
ali, a chamar-te, a ti, que podes não ser grande coisa,
mas és bom,
o terror, a certeza de um fim de um modo de viver e de ser
e a incerteza, a tremenda incerteza, como acordar?

E tanto de bom fizeste, e tanto semeaste, e como fazes falta, como fazes falta,
é impossível…, é impossível… o amor de Deus

E aí vais tu, só, no metro, a caminho do IPO
realmente estava escrito, serias um sofredor

e... todavia, quando tudo parece perdido, quando a desgraça é absoluta -
pior, só mesmo a do teu filho, se fosse verdade aquele pesadelo do atl,
era sexta-feira, dia de feira, isso sim seria o pior, já sei o que é o pior, é isso, só pode ser isso -
lá aparece essa mãozinha, tão delicada, tão terna
a fraqueza da força,
do how to become nothing para o how nothing becomes something
é impossível…, é impossível… o amor de Deus

Ainda bem que sofreste, antes, era um prelúdio
agora frui, simplesmente frui
sorri ternamente, acata a tua responsabilidade
deves fazê-lo, agora, fazê-lo, cumprir, compreender, interligar, respirar
respira, alcançaste a costa,
vê como é boa a praia, tu merece-la.

terça-feira, 23 de outubro de 2018

Outubro 18


Oi,
aqui estou, de volta,
melhor, muito melhor,
perto desse momento redentor
pressinto-o, as condições estão criadas
convergentes
para justificar todos este percurso.

Sim,
custou, passei as passas do Algarve
fui feliz, amiúde,
muito poucas vezes,
verdadeiramente duas ou três
sofri sempre dessa idealidade irreal
querer por querer, sem querer
hesitações, ansiedades, pânicos
bloqueios ancestrais,
dead ends.

Foi,
desgraças, infortúnios, reveses
normalidade da normalidade humana
necessidade dos que não controlam o tempo
nem o destino
navegar ao sabor da maré por falta de vontade
de pegar no leme.

Não,
não poderia terminar bem
nem pensar nisso,
cansado antes de começar a viagem
exausto de insegurança e descrença.

É,
relembra, agora, este instante de felicidade
esta acalmia, esta certeza
nada te apoquenta, nada queres, te falta ou consome
recorda,
aquela emoção religiosa,
o ruborescer dessa mulher,
o teu filho que te olha ao entrar na escola, como apenas ele o sabe fazer,
a mulher finalmente submissa
a estabilidade do emprego
a alegria da tua mãe, e a possibilidade,
sim, a possibilidade, de finalmente começares a escrever.

segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Até ao fim

Lendo e relendo poemas passados
como neles se nota a tristeza!

Mais vale dizê-lo, simplesmente
a inventar bacocas metáforas.

A vida é mesmo assim
imprevisível e instável
sofrida e saboreada,
inquietante e reconfortante.

Mas uma coisa é certa, certinha
um dia virá, uma hora
em que tudo se verá com outros olhos
e o único lamento será, deveras
o de não o ter experimentado mais cedo
afastando desnecessários sofrimentos.

Não desistas, pá, não desistas
a clareira está perto, o oásis, a foz
E quando nela estiveres, descansa
porque amanhã,
outro desaire virá,
Mas se tu não a esqueceres, essa experiência
tudo o resto relevarás.

terça-feira, 15 de setembro de 2015

Setembro



O ano está quase a acabar, ou a começar,
termina o verão ou inicia o outono,
finda a gestação ou nasce a criação,
está calor ou frio, sol ou chove, 
visto a t-shirt ou a sweat-shirt,
vou para a praia ou para o campo,
ouço reggae ou indie-pop,
estou empregado ou desempregado,
sou professor ou aluno, produtor ou consumidor,
saio de mota ou de carro,
asso sardinhas ou castanhas,
leio ou escrevo,
procuro o pôr do sol ou o nascer,
deprimo ou imprimo,
procuro ou escondo, lembro ou imagino,
acredito ou não, crente ou ateu,
sinto ou estigmatizo, pressinto ou rotulo,
inovo ou retrocedo,afirmo ou desminto,
compro ou poupo, arrisco ou petisco,
esqueço ou lembro, faço ou digo,
sou ou não sou?
Que és, setembro, que és,
virgem ou depravado, casto ou promíscuo,
diz-me setembro, assume-te, de que és tu feito,
quem és, que hei-de esperar de ti,
e  tu, de mim, se nada vejo além da interrogação,
da dúvida e ambiguidade, não te vejo, setembro,
és invisível.

  

sábado, 5 de julho de 2014

Julho


A meio do ano,
quando o sol, suspenso no centro do céu,
inunda todos os lugares e recantos
afastando sombras, penumbras e carcomidas humidades,

quando o sol, o astro rei,
domina todos os elementos, e a terra, e eu,

e o tempo se imobiliza no presente,
vivemos-te, julho, finalmente.

Tanta espera, tanta demora, tantos anseios e receios,
tantos sonhos impossíveis, agora, aqui e em mim,
vencidos.

Que calma, que chilreante calma,
que verdura, que torpor, quantos aromas inebriantes,
são todos teus, julhos, apenas a ti te pertencem,
de natural direito,

Ou não fosses tu julho.

Pudesse eu ser-te, julho, prender-te no meu corpo,
e no meu horizonte,

tornarias indelével a marca da minha vida,
davas-lhe o sentido e a eternidade,
para que, um dia, quando eu chegasse ao fim,
pudesse partir contigo,
doravante um mês, um momento do devir,
banhando, ano após ano, os que cá ficaram,
os que, felizes e infelizes, realizam,
na carne, no corpo, no sabor dos sabores,
a tua paixão.

Pudesse eu ser-te, julho, prender-te na minha alma,
e na minha memória,

Seria, agora e para sempre, o mês dos meses,
o momento dos momentos.

sexta-feira, 7 de março de 2014

março


Meu amigo março,

Penso em ti, 
és água, 
gelo derretido, aquário transbordante, 
água que verte nas fontes, regatos, tanques e valetas,
respigas da terra farta de um inverno tão longo quanto húmido. 

Podes ser, na origem românica, senhor da guerra,
força não te falta, 
qual oceano - Respeita o mar, rapaz, respeita o mar! -
mas, 
para mim, és apenas água,
límpida, doce,
passante e vazante,
fonte da vida, do homem, da terra,
tudo moldas, e nada fazes.

Água.

Mergulho em março, neste ano de 2014 onde tudo é quadrado,
ao quadrado, superlativo de tudo o que houve e há-de vir
o ano da decisão,
mandasse eu nestas coisas, seria como antigamente, agora iniciava o ano,
na primavera, para os antípodas outono, é certo,
em qualquer caso, seria certamente o início,
nada se inicia em fevereiro, muito menos em janeiro,
só são os meses do resto do inverno, o tal,
que nunca mais acaba.

Macho, sem dúvida, mas não másculo,
temperamental, é certo, fértil nem tanto,
aguadeiro siamês,
límpido, visível e invisível, misterioso enigma...

Que nos reservas, março, nessas tuas possantes reservas de água,
futuro ou passado?

Vago como um indie hipster, não te vejo, não te sinto, cheiro ou pressinto,
aguardo-te, deslizando, flutuando, imergindo no teu âmago,
pelo menos, por um instante, vislumbro-te,
já percebi, 
és o líquido amniótico!

Como não haverias de ser difícil de entender?
Origem, proteção, multidimensionalidade e imensidão, 
vendo bem,
és bem o deus encubador, a tua voz, 
de tão compenetrante e trovosa,
a todos nos embala,
 sem nos tocar.

paulostress

Minha foto
Vila do Conde, Porto, Portugal
A beleza torna a tristeza suportável.

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